Fernando Magalhães Chacel (1931 - 2011)

Um dos dez maiores paisagistas do mundo, segundo seleção feita pela FUNDAÇÃO DEMBARTON OAKS, a principal organização internacional dedicada à estética ambiental, em Washington, EUA, morreu no domingo de carnaval, no Rio de Janeiro


Raul Cânovas(à esq.) e Fernando Chacel em foto de Manoel de Souza para a Revista Natureza
 

Ia começar esta crônica dizendo: olha para nós, Chacel, veja o buraco que está deixando com a sua partida! Mas não seria justo depois de tudo o que fez: os jardins do Morro do Pão de Açúcar, as faixas marginais de proteção das Lagoas da Tijuca e Jacarepaguá, a Praça Antero de Quental, no Rio de Janeiro, o Jardim do Lago, em Búzios, a barragem de Paraibuna e a revitalização do Parque Dom Pedro, em São Paulo, a Usina de Itaipu, a Fazenda Cambuhy, em Matão, São Paulo e muitos et ceteras pelo Brasil afora.

A gente sente uma emoção muito forte quando alguém que admiramos como profissional e como pessoa vai embora para sempre. Saber que nunca mais iremos assistir a uma aula, a uma palestra sua, ou um simples bate papo (nada simples) em seu escritório, no 14°andar de um edifício na Avenida Almirante Barroso, no coração da cidade maravilhosa, é frustrante. Há uma espécie de sentimento de aprendizado incompleto e frustrado em nós, que por aqui ficamos rabiscando com as nossas lapiseiras Pentel, na tentativa de reconstituir a paisagem urbana, possibilitando a convivência harmônica entre cidade e natureza, como você nos ensinava quando falava em ecogênese.
Certa vez você disse, referindo-se a época entre 1952 e 1953 quando foi estagiário de Roberto Burle Marx, que “o fascínio pela arte de Burle Marx, por suas cores, foi algo que me emocionou muito e me revelou um caminho no qual não havia pensado”. Posso afirmar, querido Fernando Chacel, que da mesma forma, deixas um legado, não necessariamente aos teus verdadeiros herdeiros, que mereceram ser lembrados em testamento formal, mas a todos os que enxergam o paisagismo como enfrentamento entre a paisagem natural e a paisagem cultural. Um gesto paisagístico compensando os impactos gerados pela urbanização, buscando modelos conciliatórios entre o desenvolvimento, a conservação e a preservação dos recursos naturais. Este foi o conceito que deixaste para que continuemos a desenvolvê-lo.
Obrigado Mestre. Não me despeço com um adeus, não quero tirá-lo da minha vida de aprendiz e, apesar de cada dia ser uma despedida do passado, vou levar seus ensinamentos sempre comigo.

Autor: Raul Cânovas

 

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *