Analisando de maneira superficial, um projeto paisagístico contempla a solução de um espaço ao ar livre, onde o técnico irá desenhar e locar uma série de construções e elementos que irão proporcionar um bem-estar e prazer. Por fim, caberá também a ele a escolha das plantas para complementar o planejamento.
No entanto, este planejamento, esta ideia, pode ir mais longe. Não basta desenhar piscinas mirabolantes e formar agrupamentos verdejantes com as plantas da moda. Podemos soltar nossa emoção da mesma forma que um artista pintando ou escrevendo músicas.
Sem dúvida é muito importante o conhecimento técnico e a habilidade de combinar formas e matizes, é fundamental também a dedicação e a pesquisa, mas só com esses atributos seremos apenas artífices, estaremos praticando com certa arte um ofício mecânico, transformando nossos projetos em trabalhos de artesanato e não em obras de arte.
A sensibilidade é vital para que um jardim transmita não apenas algo belo, e sim uma realização completa. O paisagista precisa de uma percepção aguçada para interpretar a paisagem circundante, aquilo que está em volta da área onde ele vai trabalhar. É necessário além de tudo levar em consideração as vontades aparentes de quem contrata e especialmente os desejos escondidos do cliente que, às vezes, não se manifestam claramente, mas que estão aí, à disposição do artista curioso que tem como obrigação entender esse anseios, nem sempre muito claros.
O grande desafio está precisamente na realização de jardins com características especiais, jardins que atendam pessoas especiais e que tenham na sua peculiaridade o charme e a beleza.
Trabalhar com sentimentos
Ao se defrontar com uma área livre, um pedaço de terra ainda não explorado, o paisagista tem na realidade a oportunidade de preenchê-lo com o resultado de suas experiências. É claro que tudo aquilo que foi aprendido na faculdade é válido e extremamente útil, mas é importante que conservemos nossa essência intuitiva para que os projetos não repitam fórmulas. As fórmulas ou receitas são apenas expressões matemáticas que não combinam com a função de inventar. A tarefa do paisagista é criar, a partir de um vazio, algo que alimente os olhos com formas e cores, e esta combinação deve ter originalidade, deve ser singular e surpreendente para poder cativar as emoções de quem contempla.
Muro com Equisetum e água
Contemporaneidade
O artista de jardins trabalha associado não apenas a botânicos, biólogos e engenheiros, mas, especialmente, aos misteriosos caprichos do tempo, que exatamente por não serem totalmente previsíveis aportam o encanto que a criação paisagística tem como fundamental.
Quando falo em tempo não estou me referindo apenas a considerações meteorológicas como frio, calor, chuva ou sol, mas a algo tão ou mais importante, que é a época em que vivemos. O autêntico designer de jardins consegue captar o momento que a sociedade vive e até as necessidades da comunidade onde ele atua.
É dentro desta sociedade que ele cresce e se realiza como paisagista, porque ela está em permanente evolução. Ele, nos seus projetos, deverá encontrar novas formas para atender este desenvolvimento. Nas regiões onde o progresso é lento ou descontínuo, o artista para no tempo e amarga uma espécie de desesperança, que se reflete em paisagens sem imaginação.
Autor: Raul Cânovas