E a Terra falou: vou vestir-me de jardim

Sem pressa, bocejando pela última vez, soltou do cabide os verdes mais verdes e, depois de trajá-los, se engalanou com flores.

Sei que em muitos momentos de minha vida me afastei da realidade para fantasiar idéias insólitas. E quer saber de uma coisa? Vou continuar com minhas quimeras e minhas utopias que sempre inventam um mundo melhor. Quero continuar imaginando que algum dia, este planeta seja motivo de inveja de todos os alienígenas que nos espiam com seus poderosos telescópios.

Não quero que nos admirem por causa de tecnologias complicadas ou, pelo exagero de nossos luxos. Quero que eles fiquem abestalhados com a nossa felicidade, com o tamanho do sorriso largo das mulheres e dos homens que souberam conquistar a melhor das fortunas, aquela que contenta a alma de maneira verdadeira – essa que não se compra, nem se ganha por acaso.

Estou falando daquela alegria intensa que você e eu podemos vestir para sempre, se formos um pouco mais verdadeiros. Até que ponto somos realmente genuínos? Aquilo que aparentamos na frente dos outros, mostra autenticidade? Imagine-se, de repente, sem nenhum adereço ostensivo, deixe onde está pendurada àquela bolsa de grife. Ande com seus próprios pés, esqueça o carro, caminhe pelo jardim que seu sonho acabou de construir e sinta a umidade tépida dos musgos. Ah… pelo amor à Deus, sem sapatos para não machuca-los. Olhe com atenção os desenhos rendados que eles luzem, está vendo? Pois é, são as copas das árvores que brincam com a claridade e com as sombras.

Agora respire fundo e sinta o ar puro penetrando até o âmago das construções internas de seu corpo. Perceba como seu organismo ficou livre de qualquer substância nociva, deixando você bem, tão cheio de você mesmo como nunca antes experimentara: um você perfeito e sem artifícios.

Quiçá, possamos tornar tudo isso um pouco mais real, se abandonássemos o péssimo hábito de sermos aquilo, que os outros pretendem de nós. Eu prometo que irei continuar a plantar árvores, não é a maior das proezas, sei disso, mas me faz bem e, em quanto elas crescem, continuo a sonhar com um planeta sadio.

por Raul Cânovas.

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