As Sofridas Plantas do Interior

Nesta crônica, Raul Cânovas questiona o uso de plantas para ambientes internos. Será a estética mais importante que a saúde das plantas?

 

Sei que, aparentemente, há um contra-senso quando fico exasperado, deparando-me com tantas plantas nos ambientes internos; para alguns decoradores pode parecer um absurdo que um paisagista não defenda a fartura do “verde” na decoração. Mas será que a superabundância tem alguma coisa a ver com graça e elegância? Se considerarmos a delicadeza de expressão um resultado do bom gosto, seguramente não.
Por outra parte, como justificar a captura de um indefeso bambu-mossô sendo trancafiado para sempre dentro de um cachepô? Você acha lindo? Acha mesmo? Então me permita ser intérprete desse Phyllostachys pubescens como, pomposamente, é conhecido pelos botânicos. Assim que encostado em um canto do ambiente, ao lado de uma autêntica poltrona Barcelona, a planta fica estremecida ao perceber que as paredes e um forro de gesso limitam sua existência; mais tarde, a ausência de orvalho irá causar um arrepiamento, deixando as folhas encaracoladas e sedentas; seus colmos (assim são chamadas suas hastes) murcham impotentes, enquanto uma febre vegetal toma conta deles; a sensação é terrível e perturbadora nos dias que se seguem, fazendo com que esse quadro de exaltação torne-se crônico, lentamente e de maneira inexorável o nobre bambu entra em coma, obviamente sem gemidos nem estertores, talvez para não atrapalhar a proposta do designer ou porque simplesmente como diria o dramaturgo Alejandro Casona “As árvores morrem de pé”.
É provável que alguém que esteja sentado na peça de Mies van der Rohe no momento final e dramático dele, não iria perceber. O corpo morto de uma planta, não é lúgubre nem assustador, quiçá incomode por isso alguém o levará para o lixo trocando-a por uma outra muda similar.
Certamente o arquiteto alemão, gênio da Bauhaus, não pensou nesse tipo de complemento para seu assento de aço e couro; ele sonhou com a simplicidade sem rebuscamentos; e eu, continuarei a fantasiar ambientes onde plantas adequadas vivam plenamente, sem a necessidade de “agüentar” nossa prepotência.

Por RAUL CÂNOVAS

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