O musgo que sofria de apatia

Sem emoção alguma vivia agarrado a uma pedra

Nesse palco úmido e sombreado tentava, em vão, acender um sol ausente. Pensava que uma flor, uma pequena flor sem valor quase, poderia fazer surgir o entusiasmo nunca experimentado; entretanto isto era impossível para um musgo, musgos não floriam. Sabia que, ao redor, plantas e mais plantas celebravam a vida com alegria. Riam, enquanto tomavam banhos de chuva ou engravidavam com infinitos raios solares, multiplicando sensações.

Com seus poucos centímetros de altura sentia-se inferior, aquém de qualquer acaso que lhe desse a oportunidade de sair dessa apatia eterna, condenando-o a uma frouxidão característica dos que tem músculos sem firmeza ou, no seu caso, desprovido de vasos de condução e tecidos que pudessem formar caules, quem sabe até troncos e ramos e fronde e… no entanto tudo isso era impossível. O que para outros não era fácil, exigindo árduos esforços, era para o musgo, totalmente impossível.

Talvez por isso, pela convicção de suas limitações, tinha acabado por desinteressar-se de todo desejo. Sua alma de musgo tinha-se tornado indiferente, insensível, passivo perante prazeres e dores.

Será que, mesmo sendo um musgo, não encontraria uma maneira de achar o sentido na vida que lhe era oferecida pelo destino? Será que não faltou a consciência de saber que, com seu verde, abrigava uma pedra antes nua e despida desse adereço que agora ele, um simples musgo, lhe brindara?

Tive vontade de lhe dizer isso, de dar-lhe o ânimo alentador que o tirasse dessa apatia eterna, descobrindo assim sua lindeza e suas vantagens de musgo. Ele nunca soube que luzia como um veludo verdejante no meio da floresta; não imaginava o quanto era admirado por todas as árvores pela façanha de ter fabricado um tapete com todas as nuances e brilhos que os verdes sonharam.

Tive vontade, mas não falei…

Autor: Raul Cânovas

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