As cores de abril

 Dizem que os amores iniciados neste mês são eternos

Cattleya labiata

 

Talvez porque o quarto mês do ano derive seu nome de Aphròs, que em grego significa espuma do mar, sendo que dessa espuma nasce a deusa Vênus, venerada por ser a protetora da beleza e do amor. Sempre achei abril o mês redentor que nos livrava das aflições de seu predecessor, apagando os “Idos de Março”, sempre recordado por momentos nefastos como o assassinato do imperador Júlio César ou a posse de Fernando Collor.

 

O único mês que não termina com “O” traz as esperanças de quem não desiste nunca, sabendo que desistir é deixar de existir, algo parecido com não ser, renunciando as alegrias do outono maneiro destas bandas. Nosso abril se compara ao setembro primaveril, com dias de temperaturas amenas e ensolarados, pelo menos aqui em São Paulo. Trinta dias que nos estimulam a continuar vivendo intensamente, como nossas árvores que, apesar do friozinho, teimam em soltar novas folhas e florir intensamente, como as paineiras, a cana-fístula, a canela-branca, o pau-d’alho e algumas orquídeas, a exemplo das Cattleyas.

 

É um mês para contemplar céus azuis até tarde e perceber a noite misteriosamente tomada por uma pretidão explicando um infinito, ilimitadamente eterno e sem fim. Como uma paisagem fugitiva sumindo no horizonte, montada na tridimensional perspectiva que encerra todos os enigmas.

 

Dias para sentir a pele morna e os perfumes exalados pelos jasmins de todos os poetas que insistem em não desistir, que vivem e revivem. Que renovam sonhos adormecidos com olhos bem abertos como querendo abocanhar o quadro pintado por Deus, usando todos os verdes. Um mês para sonhar com os momentâneos impossíveis que poderão ser os acontecimentos reais de amanhã.

 

Renunciar não combina com abril. Use as quatro semanas para continuar tentando as mais loucas extravagâncias. Creia nos incríveis e aposte em você inspirando-se nos versos de Vinícius e Toquinho, que em 1974 escreveram "As Cores de Abril":

“As cores de abril
Os ares de anil
O mundo se abriu em flor
E pássaros mil
Nas flores de abril
Voando e fazendo amor

O canto gentil
De quem bem te viu
Num pranto desolador
Não chora, me ouviu
Que as cores de abril
Não querem saber de dor

Olha quanta beleza
Tudo é pura visão
E a natureza transforma a vida em canção

Sou eu, o poeta, quem diz
Vai e canta, meu irmão
Ser feliz é viver morto de paixão.”

Autor: Raul Cânovas

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