Arquitetar um jardim

 Planejar um espaço externo é atribuição de quem consegue visionar um conjunto de elementos onde a vegetação predomina

Sim, arquitetar não é uma prerrogativa dos arquitetos ou de outros graduados nos sistemas de educação superior. Na maioria das vezes, acreditamos que apenas pessoas com diplomas nessa área tenham a exclusividade de criar, entretanto o verbo arquitetar engloba coisas como: fantasiar, idealizar, inventar, sonhar, romantizar e, até, na linguagem jornalística, planejar um ataque bélico ou uma maracutaia qualquer. Até as crianças arquitetam travessuras e os gatos traquinices de todo tipo. O verbo em questão refere-se a ação de planejar alguma coisa e, no caso dessa coisa ser o objeto de um jardim, creio que deva ser arquitetado por alguém habituado com os benefícios que a flora propicia.

Participei nesta semana de um debate, na Garden Fair, onde foi discutida a regulamentação da profissão de paisagista e tive a impressão de que há um consenso em cima da necessidade de mulheres e homens para levarem soluções às cidades que cresceram de modo desenfreado. Muitos conglomerados urbanos foram desprovidos da vegetação que lhes propiciava conforto e bem-estar, e os engenheiros florestais, biólogos, agrônomos, botânicos e arquitetos, com especialização em paisagismo, estão sendo convocados para encontrar soluções ambientais que devolvam o prazer do cidadão.

Penso que, discussões semânticas a parte, devemos unir forças para encontrar caminhos onde a tecnologia e a natureza possam conviver fornecendo um presente melhor e um futuro salutar para as próximas gerações.

Albert Schweitzer

Lembro de uma frase de Albert Schweitzer, que foi teólogo, músico, filósofo e médico e que em um certo momento decidiu partir para Lambaréné, no Gabão, onde uma missão humanitária necessitava de médicos. O local era paupérrimo, por isso improvisou um consultório num galinheiro e atendeu seus pacientes enfrentando obstáculos de todo tipo: calor terrível, a falta de higiene, um idioma que não entendia, falta de medicamentos e escasso instrumental. Tratava mais de 40 enfermos todos os dias e viajava a Europa dando palestras e concertos de órgão interpretando Bach, com o intuito de colher fundos para reconstruir sua obra na África. Em 1952 ganha o Prêmio Nobel da Paz, falecendo três anos mais tarde no hospital levantado por ele, nessa pequena cidade banhada pelo rio Ntem que fica a poucos quilômetros ao sul da Linha do Equador, em pleno coração africano.

Ele diz: “O mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de dominarem a si mesmos.”

Será que esse filantropo alemão tinha razão?

Autor: Raul Cânovas

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