Árvores tem alma?

Ou, pelo menos, algo parecido com essa parte imortal que você e eu temos?

Se a resposta for sim, devemos acreditar então, que os enormes jequitibás possuem almas grandiosas e as orquídeas pequenas? Não creio, almas não se medem pelo tamanho externo. Esse espírito que nos anima é, muitas vezes, desproporcional com nosso corpo material. Se não veja Gandhi, era pequeno, como também Madre Tereza de Calcutá e até Napoleão, que tinha baixa estatura. Evidentemente isto não tinha nada a ver com a dimensão e o legado que deixaram, aqui na Terra.

Penso, inclusive, que entre os próprios jequitibás há diferenças, uns são altos e finos, como as colunas do Parthenon e há aqueles cujos troncos, de tão dilatados, precisam de mais de dez pessoas para abraçá-los. Com as orquídeas acontece algo parecido, sempre que vou a uma exposição delas observo a enorme diversidade de tamanhos, floradas e cores. É incrível como até a menorzinha luz características que a distinguem, merecendo lugar de destaque nessas mostras que os orquidófilos organizam.

Às vezes – nos meus habituais devaneios – reflito sobre a possibilidade de um lenhador, depois de derrubar uma árvore, se deparar com um ser desalmado. Não por causa das crueldades que ela possa ter cometido – se é que uma inocente árvore pudesse praticar isto – mas pelo repentino desaparecimento daquilo que a animava, estimulando seu crescimento.

Nossa visão antropomórfica nos leva a idealizarmos como seres humanos privilegiados, sendo os únicos no infinito Universo à ter a regalia de carregar uma essência que nos vivifica. Opino que, embora tenhamos vantagens que nos destacam biologicamente e intelectualmente, não estamos sozinhos nessa coisa de sentir perturbações, já que estas tanto podem ser psicológicas como fisiológicas, encorajando todas as formas de vida a realizar as fantasias individuais que marcam seus destinos.

Contemplo uma tumbérgia visitada sempre por beija-flores e vejo como essa planta se esforça em sociabilizar-se, ao mesmo tempo que um pinheiro vive sua solidão extrema sem relacionar-se com ninguém. É notável, também, como cada espécie escolheu uma forma de perpetuar sua existência, umas soltam perfumes de manhã, para atrair sabiás e pintassilgos, enquanto outras prepararam suas flores, exalando cheiros noturnos, que chamam corujas e morcegos. E todas usam seus polens para deslumbrar a fauna faminta.

Será que isso não demostra que qualquer criatura, mesmo que não humana: plantas, bichos ou borboletas, são impulsionadas por motores motivacionais que possamos chamar de alma? A resposta deve de ser dada por um grupo “muito louco” ou nem tanto, formado por religiosos, filósofos, biólogos, especialistas em semântica e, alguém como eu, para bagunçar o coreto.

Autor: Raul Cânovas

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