Devaneios de Carnaval

Decidi escrever algo pouco sério.

Desfile da Vai-Vai, campeã do Carnaval de São Paulo em 2011

 Afinal, no meio deste carnaval não há espaço para discursos filosóficos, teorias sobre a estética ou dicas de jardinagem. Querendo ou não somos levados por uma corrente de euforia contagiante. Impossível ficar de fora de algo tão representativo, tão brasileiro, tomando conta das ruas e da gente.

Lembro de carnavais passados, longe desta festa toda. Viajava ao Chile para “internar-me” no Vale do Maipo e apreender mais um pouco sobre os carmenères e os sauvignons blancs, ou a Mendoza onde também fazia os percursos etílicos degustando malbecs fantásticos. Em uma ocasião passei a semana de folia, sem folias, em Bento Gonçalves, hospedado na Casa Valduga, fiquei amigo de Dom Luigi e da Dona Maria, os patriarcas da vinícola mais respeitada fora do país. Com eles viajei pelo Vale dos Vinhedos conhecendo vários produtores: Marson, Miolo, Dom Cândido, Pizzato, Don Laurindo. Conheci e bebi claro! Saudades de Don Luigi que nos deixou há algum tempo porque foi convocado para degustações celestiais.

Eh! Sempre gostei de vinhos. Mas este ano decidi incorporar o espírito de Momo e ficar por aqui vendo os desfiles no sambódromo, a Banda dos Esfarrapados na Bela Vista e outras coisas do gênero. Concluí que carnaval combina bem com vinhos e com o espírito sempre pronto a desabrochar músicas, cores e muitas flores, que alimentam os sambas-enredo e os carros alegóricos. Devo admitir que o carnaval tem tudo a ver com a gente e que, de alguma maneira, nos influencia emocionalmente. Essa fartura visual composta por adereços multicoloridos, passistas e baterias acaba por inspirar o trabalho de um criativo como eu, que contagiado por tudo isso, levo para meus jardins a alegria cromática e insinuante que as escolas de samba fabricam.

Sim, pode parecer insólito, mas a inspiração de um paisagista não surge necessariamente contemplando jardins bucólicos, ela é estimulada através das coisas captadas pelas nossas emoções que vão desde uma tarde de sol na praia, até uma visita ao MASP, na Avenida Paulista. Entretanto assistir o desfile da Camisa Verde, da Vai-Vai ou da Rosas de Ouro pode ativar neurônios adormecidos que, mais tarde, ajudarão na criação de algum belo jardim.

 

“Oh! Jardineira por que estás tão triste
Mas o que foi que te aconteceu?
Foi a Camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu…”

Grande Orlando Silva…

Bom carnaval!!!

Autor: Raul Cânovas

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