Topiaria

Uma prática démodé

Sei que muitos vão ficar zangados comigo por criticar este costume ultrapassado que, sob a escusa de obedecer um estilo, é o de podar plantas que não querem ser podadas. O uso das tesouras de poda remonta ao início do Império Romano e o responsável, segundo Plinio, o Jovem, foi um cônsul poderoso chamado Gnaeus Pompeius Magnus, tão poderoso que acabou casando com Júlia Cesaris, filha do imperador Júlio César. Contam que depois da guerra das Gálias, finalizadas durante a primavera de 52 a.C., este imperador levou à Roma mais de 400 mil escravos que foram “repartidos” entre os aristocratas do Estado. Como não existiam indústrias – pelo menos no sentido que conhecemos hoje – era complicado ocupar tanta gente e Pompeius Magnus teve a genial ideia de entalhar plantas com tesouras na sua vila toscana. Para esta tarefa escolheu escravos que tinham uma posição superior à dos outros servos prisioneiros que cuidavam de seu jardim, estes últimos eram os arborator hortulanus, jardineiros que executavam tarefas simples. Já os topiarii possuíam bom gosto, ao ponto de dar formas extravagantes de animais, obeliscos e inscrições feitas com arbustos para definir espaços ou para criar ornamentações pomposas. Chegavam, inclusive, assinar seus próprios nomes recortando alecrins e outras ervas.

Desenho de William Kent para um jardim natural

Hoje parece ridículo ocupar jardineiros tentando domesticar buchinhos. Primeiro porque não há mais escravos, nem sequer muitos jardineiros bons disponíveis. Segundo porque, diferentemente desses patrícios romanos, temos mais o que fazer do que perder tempo contemplando paisagens enganosas e artificiais. E terceiro porque, mesmo tendo muito dinheiro para gastar nesse passatempo, há outras distrações agradáveis e ligeiras onde pode ser aplicado o capital sobrando. Que tal vinhos, por exemplo? Viajar à lugares incríveis ou colecionar emoções literárias? E se o l’argent escasseia, com mais razão aplicá-lo em hobbys mais produtivos emocionalmente.

Reconstrução de um jardim de Pompéia

Mas, cuidado, na China e no Japão poda-se com a intenção de uma expressão de veneração mística, criando o “Penjing”, literalmente a paisagem em bandeja dos chineses ou o Bonsai, na terra do Sol Nascente, o mesmo os jardins Zen com uma técnica de poda chamada O-Karikomi e outra denominada de Hako-zukuri, que pretendem reproduzir a essência íntima da natureza. Estes estilos não fazem parte das minhas críticas, como tampouco censuro os jardins renascentistas franceses, porque compreendo que eram mostras claras do poder. Eles foram satirizados por Alexander Pope, poeta, ensaísta e desenhador de jardins inglês, na sua obra literária “Escultura Verdant”. Pouco tempo depois, William Kent e Charles Bridgeman, famosos paisagistas, também ingleses, varreram os labirintos e as topiarias, impondo uma línea bucólica à paisagem britânica.

Restaram os jardins da Disneylândia que 1962 recriaram os personagens de Walt Disney, com arbustos, em seu parque temático.

Ah, também temos algumas topiarias por aqui, que resistem ao tempo e as tendências. Dizem por ai que são coisas de nouveau riche. Será?

Autor: Raul Cânovas

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