Projeto Belezura?

A Prefeitura de São Paulo vai gastar grande parte de uma verba de R$ 15 milhões em plantinhas floríferas, reavivando parte do projeto da administração anterior. O que você acha?



Preciso dar minha opinião. Se dois terços desse montante fossem usados no plantio de árvores, disporíamos de R$ 10 milhões. O preço de uma muda com 2,20 metros de altura gira em torno de R$ 20,00. Somando a esse valor os gastos com transporte, adubação, tutoramento e a mão de obra para o plantio — abrangendo o acompanhamento técnico — o valor final não ultrapassaria R$ 35,00 por árvore plantada.

Pois é, a verba daria para 285 mil mudas. Não vão pensar que não gosto de agapantos ou de margaridinhas. É obvio que canteiros multicoloridos trazem alegria ao município, entretanto, e sempre existe um entretanto, o beneficio das espécies arbóreas é infinitamente maior. Vejam se não:

— Removem parte do monóxido de carbono e absorvem poluentes (140 kg de poeiras ao ano, em media, é o que absorve uma árvore adulta);
— Estabilizam a temperatura, com redução no verão e uma sensação de frio menor no inverno, por causa da umidade que produzem;
— Constituem barreiras contra os ventos;
— Diminuem os ruídos;
— Recuperam córregos, evitando assoreamento do leito e o desgaste das margens;
— Estabilizam áreas em declive, controlando a erosão;
— Alimentam pássaros, especialmente os que controlam pragas urbanas;
— Absorvem o excesso de água ocasionado pelas chuvas. Uma área arborizada absorve 95% da água de chuva. Se asfaltada, a absorção é zero.

Essas são, certamente, as principais virtudes, das muitas, que as árvores possuem.

A Prefeitura de São Paulo informa que a cidade que administra tem 49,96% de sua área, com cobertura vegetal. Acredita? Também não! Promete plantar 800 mil árvores até 2012. Para honrar o compromisso terá que assentar, diariamente, mais ou menos 1,5 mil mudas. É possível?

Bem, com uma centena de jardineiros treinados e equipados, talvez consiga. Porém, a realidade é outra: as mudas são plantadas de qualquer maneira, sem adubação, sem acompanhamento técnico no local, não são irrigadas durante a operação de plantio e, o pior de tudo, não há uma manutenção posterior. As equipes destinadas à conservação de áreas verdes se limitam ao corte de grama — aliás, à ceifa do mato, já que é difícil encontrar na cidade um espaço verdadeiramente gramado. Por isso, duvido que alcancem essa meta.

A cidade de São Paulo tem 11 milhões de habitantes e totaliza 17.970 quilômetros de ruas e avenidas. Plantando uma essência arbórea a cada 10 metros, (nas duas calçadas de cada rua ou avenida) seriam necessárias 3.594.000 mudas, para um perfeito arborizado. Teríamos desse modo, em números redondos, 3 árvores para cada paulistano — o que é considerado de muito bom grado para nossa saúde física e mental.

Isso evitaria, pelo menos em parte, que 22 pessoas morressem por dia por causa de problemas respiratórios ocasionados pelos poluentes que a fumaça dos veículos desprendem. O ar paulistano acumula, anualmente, 3 milhões de toneladas de poluentes, sendo que 90% são emitidos por veículos automotores. Hoje a cidade é a 5ª metrópole mais poluída do planeta, segundo informa o Centro de Informações e Pesquisas Atmosféricas da Inglaterra.

Essa contaminação atmosférica é responsável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) por um número maior de mortes, do que, somadas junto: o trânsito, os homicídios, as doenças infecciosas e as do sistema nervoso, em decorrência de problemas cardíacos ou respiratórios, ocasionados pela exposição reiterada ao ar poluído. A mesma OMS observa que a cada 10 microgramas por metro cúbico de poluentes, o risco de câncer de pulmão aumenta em 12 %. São Paulo registra 20 microgramas por metro cúbico, acima do padrão recomendado, o dobro, portanto.

Árvores não são uma mágica solução, mas ajudariam e muito à minimizar estes problemas.

Desculpe se de alguma forma fui por demais incisivo e desprovido da polidez que se espera, quando alguém critica a administração municipal. Mas já que me despojei de algumas cortesias, vou aproveitar para repreender o paisagista que trata as áreas verdes como lugares onde apenas o resultado estético é considerado.

Reprovo, da mesma forma, o arquiteto que isola a mansão com um “jardin minimaliste”. Por fim, meio que mal educadamente com você, paciente leitor, também o censuro pela apatia diante dessa árvore que padece languidamente, em um minguado quadrado, na sua calçada.

Autor: Raul Cânovas

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