Patrick Blanc, criador de jardins verticais

O botânico parisiense me surpreendeu com seu conhecimento técnico

Raul Cânovas e Patrick Blanc em Paris.

Estive com ele exatamente há um mês. Nos encontramos na frente do musée du quai Branly, o Museu das Artes e Civilizações da África, Ásia, Oceania e Américas, a poucos metros da emblemática Torre Eiffel. Esse edifício, projetado por Jean Nouvel, recebe muitos visitantes, entretanto a maioria se satisfaz contemplando a enorme parede coberta por milhares de plantas que convivem harmoniosamente, escondendo a frieza da construção. O “Le Mur Vegetal”, como é chamado por este homem de 59 anos, foi feito usando um engenhoso sistema de PVC, com 10 mm de espessura, suportado por uma estrutura metálica, na qual foram grampeadas duas camadas de poliamida, um polímero termoplástico resistente a umidade e variações de temperatura. Nele foram plantadas varias espécies que contrastam cores, formas e volumes, como: a Saxifraga stolonífera, a Begonia monophylla, a Pilea nummulariifolia, junto com samambaias e capins.

Patrick, com seus cabelos pintados de verde, trajando tons da mesma cor, me surpreendeu com seu conhecimento sobre flora, tanto aquela típica da França, que suporta frios intensos, como a nossa, aqui dos trópicos. Falamos sobre famílias vegetais específicas que poderiam ser aproveitadas, no Brasil, nos jardins verticais. Só para testar até que ponto ele dominava os conhecimentos sobre espécies, citei as piperáceas, as gesneriáceas, as crassuláceas, as aizoáceas e as marantáceas. Repentinamente, para assombro meu, me interrompeu dizendo que as marantas não desenvolveriam bem, porque seu crescimento vertical não se adequaria nesses jardins aprumados. Realmente comprovei que sabe muito sobre plantas e que seu trabalho é muito sério, não limitando-se a um impacto visual apenas, pretendendo minimizar os efeitos da temperatura e da poluição, além de abrandar o cinza das cidades.

 

Jardim Vertical de Patrick Blanc na FAAP, em São Paulo.

Em Chaumont-sur-Loire vi o primeiro projeto dele, feito para um festival de jardins realizado anualmente nessa cidadezinha de apenas 1.100 habitantes, distante 170 quilômetros de Paris. Lá, em 1994, fez duas paredes onde as plantas prosperaram, aumentando de tamanho sem a necessidade de nenhuma manutenção especial, a não ser água limpa e adubação foliar. Isto me leva a pensar sobre muitos jardins verticais que vejo por aqui, onde as plantas são substituídas periodicamente, anulando por completo a intenção deste francês que bolou um mecanismo sustentável e simples onde tudo convive em equilíbrio, proporção e paz.

Patrick Blanc já plantou mais de trezentos jardins verticais e não para de viajar pelo mundo, pesquisando plantas que irá usar nas suas criações. Meu encontro com ele deixou uma mensagem muito clara: o marketing pessoal, coisa que ele leva a serio, é necessário. Porém o conhecimento técnico para elaborar um bom projeto paisagístico é fundamental.

Autor: Raul Cânovas

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