Os pintores

O Museu Thyssen – Bornemisza e a Fundación Cajá Madrid propõem um sugestivo passeio pelos jardins, na pintura do Século XIX até o início do Século XX.

 


‘Lotus lillies’, do norteamericano Charles Courtney Curran, pintada en 1888

O poeta e dramaturgo espanhol, Federico Garcia Lorca (1898 —1936), uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola devido aos seus alinhamentos políticos com a República Espanhola e por ser abertamente homossexual, comparava os jardins com “um cúmulo de almas, silêncios e cores, um sacrário de paixões”. Há, realmente, muito de tudo isso na exposição organizada pelo Museu Thyssen, em Madri, Paseo del Prado, 8.

Nela será mostrada como a obra impressionista usou os jardins como inspiração para os mestres que participaram deste movimento artístico — que surgiu, mais ou menos, em 1872, quando Claude Monet entende que as cores e tonalidades mudam a cada instante, dependendo da incidência da luz do sol. Os autores desse período não respeitam os preceitos realistas e acadêmicos. Buscam os elementos essenciais da paisagem no momento de retratá-la. As pinceladas enérgicas e soltas são feitas sempre ao ar-livre, em contato íntimo com a natureza. Participam também, da mostra, os precursores deste movimento: Delacroix, Corot, Courbet, Klimt e Sargent.

Graças à introdução de espécies vindas da América, Ásia e África, a Europa “descobre” centenas de flores e folhagens. Isto incentiva a criação de parques reais e jardins públicos que, a partir de 1860, adquirem imensa popularidade na França e servem de inspiração aos impressionistas.


Livro de Claire Willsdon, colaboradora da mostra

A exposição, que se iniciou no dia 15 de novembro, mostra 130 obras emprestadas por colecionadores e museus importantes e contou com a colaboração da National Gallery de Edimburgo e de Claire Willsdon, autora do livro “In The Garden of Impressionism”.  É uma oportunidade fantástica para os amantes da arte pictórica e paisagística, porque pode se comprovar a importância de estar em contato com os espaços abertos para senti-los melhor e, desse modo, retratá-los ou reconstruí-los, na forma de jardins. Se o próprio Rubens, no Século XVII, pintou “A Dança Dos Aldeões Italianos” e “O Jardim”, entre outros; se Renoir retratou “Woman with a Parasol in a Garden”; se Van Gogh fez “Cypress and Wheatfield”, porque os paisagistas não se atreveriam a largar a prancheta e o computador e passar um bom tempo em contato com a paisagem verdadeira para aceitá-la e, assim, depois de compreendida, reproduzi-la com autenticidade.

O poeta Mallarmé, que conviveu com Renoir e Monet, falou que: “é dever do poeta evocar os jardins ideais”. Talvez por esse motivo os jardins de Giverny foram tão importantes na vida e na obra de Claude Monet. Mirbeau, que foi jornalista, escritor e crítico de arte, na plena “Belle Époque” de 1891, fala assim dele: “Em mangas de camisa, as mãos manchadas de terra, o rosto bronzeado, ele está feliz por cultivar seu jardim deslumbrantemente florido”
 
Esses artistas amavam o jardim. Berthe Morisot pintou sua filha Julie, enquanto brincava nos canteiros floridos de sua casa em Bougival. Renoir tinha um pequeno jardim em seu atelier de Montmartre. O jardineiro de Paul Cézanne posou para ele sob a sombra de uma árvore, na Provenza. Camille Pissarro, autor de “Paisagem de Pontoise” escreveu: “quantas inspirações encantadoras achei no meu jardim”. Esse jardim de Éragny foi mantido por ele durante toda sua vida, incutindo uma produção fortemente centrada no bucólico. Outro dos precursores do Impressionismo foi Charles-François Daubigny, de família de pintores, seus quadros tinham por cenários, agrestes paisagens com árvores e rios com patos, sendo sempre a natureza o assunto principal, nas suas telas. Antes mesmo de Van Gogh, pintou os campos de trigo de Auvers. O valenciano Joaquin Sorolla, conhecido como o Pintor da Luz, imortalizou os jardins reais de Madri e de São Ildefonso e, depois, criou o projeto de seu próprio jardim na sua residência em Madri, que lhe serviu de inspiração.
 
O escritor francês Edmond de Goncourt, fundador da Academia que leva seu nome e inspirador do Prêmio Goncourt — o prêmio literário mais cobiçado na França — fala assim de seu jardim em Auteil: “O jardim te agarra, te segura, te guarda”. No começo de sua vida com a avó, Aurore, verdadeiro nome da escritora George Sand, sofria muito com a falta de sua mãe e passava os dias praticamente sem falar com ninguém, correndo pelos jardins de Nohant e brincando com seus amigos invisíveis. Mais tarde, no meio de uma relação amorosa com o compositor Fréderic Chopin, a autora de “Indiana” dizia que: “os jardins eram a projeção das fantasias”

 


Humphry Repton

É bom lembrar que os célebres paisagistas ingleses Lancelot "Capability" Brown, Humphry Repton e William Kent, retratavam nas telas seus projetos paisagísticos. Repton, por exemplo, deixou os “Red Books” (livros vermelhos) com aquarelas notáveis, que fazia especialmente para cada cliente que o contratava.
 
A exposição “Jardines Impressionistas” vai até o próximo 13 de fevereiro. Que tal passar por Madri e curtir tudo isso?

Autor: Raul Cânovas

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