O mato, a enxada e as enchentes

Inundações e enchentes serão manchetes dos jornais nos próximos meses. A capina desmedida tira a proteção natural do solo, corroendo sua estrutura e provocando desmoronamentos de terra.
 

 

É raríssimo ocorrer desmoronamentos e cheias em áreas de mata virgem. As inundações são fenômenos ocasionados pelas modificações do solo urbano e pelo excesso de capinas feitas com enxadas, sem critério e de forma indiscriminada. Por favorecerem a vida microbiana do solo, as chamadas “plantas daninhas”, que, muitas vezes, formam a cobertura vegetal, desempenham um papel preponderante na natureza. Elas reciclam permanentemente a matéria orgânica produzida pela vida microbiana, formando uma camada de húmus que ameniza o impacto das chuvas e regulariza a temperatura.

Quando este tipo de extravasamento acontece nas áreas em que a urbanização ainda é incipiente, o solo, graças à vegetação que o resguarda e o protege, absorve os excessos das águas de forma gradativa e ininterrupta, sem prejuízos à flora e à fauna.

A enxada foi uma ferramenta fundamental para que a humanidade pudesse produzir seus alimentos perto do local onde morava. Graças a ela, o homem abandonou a vida nômade e não precisou andar muito à procura de alimentos. Foi assim que nos organizamos socialmente, formando primeiro a aldeia e, por último, essa mega vila conhecida como cidade.

No Brasil, antes que a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema fabricasse as primeiras enxadas, em 1816, elas eram importadas da Inglaterra. Hoje são produzidas mais de quarenta modelos, quase sempre com cabo de madeira de pindaíba, ou canela-de-veado.

Dizem que sonhar com ela é sinal de fartura e, se durante esse sonho a usamos para capinar, é sucesso garantido. Sei, não… Nem sempre o sucesso imediato deixa resultados duradores e a enxada pode se transformar em uma arma contra a natureza, que nos protege dela mesma, quando se descontrola.

Autor: Raul Cânovas

 

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