Natal

Que tipo de festa estamos preparando?

Todo Natal é a mesma coisa, quando a data se aproxima lembro da minha infância e da minha mãe enfeitando uma árvore com nozes inteiras e coloridas, mini-cestinhas cheias de balas e muitos anjinhos iluminados por duas dúzias de velinhas brancas. Na ceia, um frango recheado com miolo de pão e castanhas, ensopado em creme de leite e outros temperos, luzia com um dourado impecável ao lado de uma porção de batatinhas coradas. A cidra – mas não qualquer uma e sim uma etiqueta negra brut – acompanhava esses acepipes. Era simples, muito, muito simples e singelo. Ela sempre falava que o que se comemorava era o nascimento de alguém que veio para ensinar uma humildade desprovida de artifícios e que, por isso, devíamos fazer dessa noite uma coisa despretensiosa e sem gastos astronômicos e absurdos.

Imitando de certo modo os hábitos natalinos que aprendi quando criança, faço do Natal um momento de reflexão. Componho a mesa com pães e vinho e converso com os meus sobre nossas emoções. Não há presentes, nem danças, nem champanhe, penso que quando Ele nasceu não tinham nada disso e é seguro que não havia pinheiro enfeitado. Mas sim muitas estrelas, regidas por uma que brilhava muito mais. A grande decoração era essa e a refeição tinha algo de ingenuidade e de pão e de vinho.

Os tempos mudaram, claro e creio que para melhor, apesar das desgraças noticiadas. E essas notícias vem acompanhadas por anúncios que propagandeiam uma sorte de produtos, embrulhados com papeis que brilham e fitas pintadas com todas as cores, induzindo uma felicidade comprada e paga em prestações muitas vezes pouco ou nada felizes. Sei que muitos esqueceram o porque da celebração, contudo festejam com uma certa balburdia e muita cerveja o aniversário de um homem bom que fazia das ceias uma ocasião oportuna para sonhar com um futuro de igualdade e liberdade. Em algum lugar deve estar nos contemplando um tanto decepcionado com o resultado magro dessa luta por um sistema onde as pessoas livres – realmente livres – sejam vistas pelos valores intrínsecos que carregam.

Por favor, não pense que sou pessimista, creio nos homens e ainda mais nas mulheres que carregam, quem sabe, deuses nas suas barrigas. Imagino que um reformador social, um enviado que nos redima estará nascendo no mesmo dia de dezembro, para salvar-nos de nossos desacertos em um canto quase tão modesto como aquele de Belém. Só espero que seja compreendido em lugar de crucificado pelo pouco caso e a ignorância humana.

Autor: Raul Cânovas

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