Goethe

Certa vez esse poeta alemão, que escreveu “Os sofrimentos do Jovem Werther” e “Fausto”, disse: “o maior problema de toda arte é produzir por meio de aparências a ilusão de uma realidade mais grandiosa”


Johann Wolfgang von Goethe

Achei forte essa frase. Quando este homem, que foi responsável por romances, poemas, peças de teatro, escritos autobiográficos, reflexões teóricas nas áreas de literatura, arte e ciências naturais, escreveu isto, pensava, seguramente, na pintura de Adrian Ludwig Richter, que equilibrava com maestria a figura humana com a paisagem ou na música de Bach, seus patrícios. Naquela época não existia cinema, arte conceitual, performances, grafites ou música eletrônica, expressões artísticas do mundo atual.

Mas os jardins que rodeavam sua casa em Weimar ou aqueles grandiosos do Palácio de Nymphenburg, em Munique, seguramente faziam parte do mundo em que ele vivia e é possível que Goethe (1749 – 1832) tenha refletido sobre os jardins quando falou em criar através de aparências a sensação de uma realidade grandiosa. Mesmo porque seu gênio poético o estimulava a fazer expedições botânicas, muitas das vezes solitariamente ou viagens ao sul da Europa, na direção dos Alpes, para encantar-se com a paisagem sulina. Tempos depois, Itália iria revelar ao poeta o jardim botânico da Universidade de Pádua, onde passava as tardes tentando entender o mistério das roseiras, das madressilvas e das outras plantas que integravam a coleção desse primeiro campo de aclimatação de espécies botânicas na Europa. Suas observações estão no "Sobre a metamorfose das plantas", originando um estudo de morfologia vegetal. Entretanto, por ser por demais revolucionário, recebeu a negativa do seu editor em publicá-lo. Este alegou que o cliente era um escritor e não um cientista.


Jardim de Nymphenburg visto da sacada do palácio

Goethe teve que esperar dezoito anos para, após o Congresso de Viena, ser aceito como um colaborador fundamental das ciências botânicas, antecipando-se a Darwin. Ele diz: "Quando entendermos que o sistema vertical é definitivamente masculino e o espiralado feminino seremos capazes de conceber o caráter andrógino de toda a vegetação. No decurso da transformação de crescimento, os dois sistemas se separam e tomam rumos opostos para depois reunirem-se a um nível mais alto."

Como podemos constatar, poesia e botânica podem andar de mãos dadas. Ao final das contas todo paisagista pretende trazer, pelo menos essa é a ilusão, o paraíso para perto dos homens, sem esquecer que ciência e emoção devem ser equilibradas. Visitando o Jardim Botânico de Pádua senti isto. O lugar é calmo e fica a pouco menos de dois quarterões da Basílica Del Santo, onde repousam os restos de Santo Antônio de Pádua.

Autor: Raul Cânovas

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