Lembro que, quando criança, janeiro era um mês de esperanças. Confiante esperava os presentes do Dia de Reis, em 6 de janeiro.

Adoração dos Reis Magos, por Gerard Seghers
 

Como os bondosos reis eram três, naturalmente cada menino tinha preferência por algum deles. Mesmo porque a carta na qual pedíamos o mimo sonhado devia ser endereçada de modo individual. Pelo menos eu achava que assim, o escolhido seria mais generoso comigo. O nome dos Magos, como também eram conhecidos, eram: Melchior, Gaspar e Baltazar. Este último era meu predileto: negro, de barba cerrada e com aproximadamente quarenta anos, partira da Arábia (atual Arábia Saudita) , para presentear o Menino Jesus, com mirra, em reconhecimento da humanidade. A mirra (Commiphora myrrha) é uma pequena árvore, nativa dessas regiões desérticas. Mirra deriva do hebraico murr ou maror, que podemos traduzir como amargo e era fundamental nos processos de embalsamamentos, pelas propriedades de inibir a proliferação de microrganismos. Era, portanto, um antisséptico natural que os egípcios utilizavam nas múmias desde o século XXVI a.C.

Baltazar (Bel-Sar-Utsor, que significa Deus protege o rei) foi sempre generoso comigo: uma zebra de pano, com a qual brincava de cavalinho; um triciclo vermelho, para passear pelo jardim; um trem elétrico Märklin (meu pai era o maquinista, evidente); um voo de hidroavião pelo Rio da Prata, que deixaram meus colegas da escola “verdes de inveja”. Cada um teve um significado particular. Não conseguia dormir de ansiedade todos os 5 de janeiros, esperando o amanhecer do dia 6, quando saberia com que fora brindado pelos Reis Magos. Há tanto tempo! A última vez que fui presenteado por Baltazar, e foi uma espécie de mimo derradeiro, aquele que nos impacta para sempre, na forma de um regalo sublime e grandioso. Foi quando nasceu meu filho Martín, ele o deixou carinhosamente um dia 6 de janeiro, um pouco antes da aurora… nasceu junto com o sol desse dia.

Autor: Raul Cânovas