Corujas

Não entendo o porquê de vê-la como um pássaro esquisito

Coruja caburé

Talvez seja por causa da fábula de La Fontaine “A Coruja e a Águia”. Nela uma coruja dá de frente com uma águia e lhe diz: Se encontrar, em um ninho, uns passarinhos muito engraçadinhos e lindos, por favor não os coma, pois são meus filhos! Tá bom, respondeu a águia, não os comerei e saiu voando por ai até achar um esconderijo no tronco de uma árvore com um montão de filhotes de passarinhos muito apetitosos.

Quando a coruja se deparou com a cena, vendo que a águia tinha faltado à palavra, lhe disse amargurada – Você foi hipócrita e enganadora devorando meus filhotes!

Séria a águia respondeu: – encontrei uma cria sem penas nem bico e de olhos fechados e os comi para matar minha fome. Você contou que seus rebentinhos eram bonitinhos, com biquinhos lindos, por isso tive a impressão de que não eram seus.

– Não eh! – disse a mãe coruja – eram eles meus filhotes!

– Eu não faltei com a promessa, mas foi você que, por causa da falta de discernimento, se enganou.

Mocho orelhudo

Esta história ensina o valor que os filhos tem aos olhos da mãe que, com seu amor infinito, os vê sempre lindos e perfeitos. De aí ficou o termo “amor de mãe”, que aponta a mãe zelosa, preocupada com sua prole, protegendo-os sempre.

Mas porque estou falando de corujas? O que elas tem à ver com o jardim? Simples, elas são vantajosas mantendo o jardim livres de roedores, cigarrinhas, mariposas, piolhos-de-cobra, gafanhotos, aranhas, cupins, pequenos repteis e escorpiões, consumido também frutas e ajudando a dispersão das sementes e a germinação de novas plantas. É bastante comum facilitar os ninhos nas torres das igrejas, celeiros e sótãos, para controlar a população de ratos. Indo um pouco mais além, os olhos fixos são compensados pelo giro da cabeça e o pescoço em até 270º em qualquer direção possuindo assim excelente visão, acompanhada de ouvidos afinados que as tornam notáveis caçadoras.

Jean de La Fontaine (1621 – 1695)

Esta ave, tão diferente de outras, não só pelo aspecto, mas fundamentalmente pelos hábitos noturnos, a exceção da caburé e da buraqueira que agem de dia, a converte na rainha da noite, tendo a capacidade de enxergar através da escuridão, conseguindo ver o que as outras aves não veem. É a imagem da filosofia, do mistério e do conhecimento, sendo ligada à deusa grega da sabedoria, Palas Atena. Há no mundo mais de 200 espécies e umas duas dúzias no Brasil; desde pequenas, como o mencionado caburé que pesa apenas 60 gramas, até os jurutus com um quilo de peso. Habitam todos os biomas brasileiros, entretanto cada espécie tem sua preferência, como o mocho orelhudo que vive na mata atlântica da região Sudeste, a amazônica no Norte, a buraqueira no Nordeste e a corujinha-sapo nos campos do Sul.

Por tudo isso, se ouvir o canto delicado da coruja numa noite qualquer, não se assuste, não é mau agouro é um modo natural de sustentabilidade.

Autor: Raul Cânovas

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