As escadas no jardim

Quando a topografia do terreno não é plana as sequências de degraus, interrompidos por patamares, salvam distâncias

 
Mas não é só, raramente é levado em conta o aspecto simbólico delas. Seu desenho não está restrito à função de ligar ambientes externos. Se fosse apenas isto sua importância teria um benefício passageiro, seu mérito estaria restrito a encurtar ou resolver uma situação topográfica e, quando é vista desse modo, observamos o lado arquitetônico que envolve as lâminas horizontais ou pisadas e o espelho dos degraus que ficam verticalmente posicionados, unicamente isto.

Por esse motivo quero ver as escadas como elementos simpáticos que nos obrigam a prestar atenção redobrada a cada passo que damos. Em cada degrau o panorama do contorno muda de repente, revelando elementos novos ou fazendo desaparecer imagens que, segundos atrás, eram nítidas. Isto, especialmente, quando desenhadas de forma a serpentear o terreno, criando curvas, ora para direita, ora para a esquerda e descansando a cada sete lances, no máximo, em um espaço mais ou menos largo que nos permita tirar um fôlego, apoiados em um lindo guarda-corpo.

Acho que as escadas de um jardim devem se confortáveis e seguras, com espelhos de dez ou doze centímetros e cobertores de mais ou menos quarenta centímetros, para uma ergonometria perfeita e uma exigência menor de esforço quando subimos ou descemos. Seu acabamento precisa ser antiderrapante para que, nos casos de orvalho ou chuva, não cause acidentes. É fundamental entender que a concepção delas é diferente de uma escada interna, dentro de uma residência. No jardim sempre estará localizada a céu aberto e sem paredes ou corrimãos por perto, dando, quando mal projetada, a sensação de insegurança, especialmente em se tratando de crianças, idosos e pessoas com necessidades especiais.

Quando construímos uma escada no jardim, criamos um aliado que nos ajuda a elevar algo mais do que nosso corpo, permitindo que possamos descer sem rebaixamentos, sem perder a noção do que temos ao redor e nos impondo a necessidade de pisar sempre no lugar certo.
Autor: Raul Cânovas
 

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