Árvore de Natal

Que ela é um símbolo, ninguém discute, mas será que poderíamos questioná-la como um elemento representativo, que convenciona a maneira de interpretar o Natal brasileiro?
 
Vejo o pinheirinho natalino mais como um fenômeno cultural-religioso do que algo que se relacione com o nascimento do Salvador. Se não vejamos: na Escandinávia, antes da Era Cristã, cortavam se ramos de abetos e pinheiros, que permaneciam verdes para, mesmo no inverno, sonhar com campos verdejantes que abasteceriam de alimentos. São Vilfrido (634-710) levou o cristianismo aos germânicos e aproveitou-se da tradição afirmando que um pinheiro, depois de um temporal, sobrevivera porque representara a inocência e a paz do Menino Jesus. Isto serviu de pretexto para substituir o carvalho, árvore sagrado dos Celtas, pelas coníferas, que não perdem folhas no dezembro hibernal do Hemisfério Norte.

É importante ressaltar que em Belém não há tujas, nem abetos e, sim, terebintos, figueiras e oliveiras. Por isso me pergunto: porque insistimos em uma simbologia que expressa o mito,  em lugar de escolher o imaginário dos dogmas da fé.

Se apesar de tudo isto, você insiste em usá-lo como o centro das atenções, na ceia do dia 24, lembre-se que ele é uma criatura da natureza e que demorou anos para alcançar esse tamanho ideal. Não se esqueça de regá-lo e, por favor, passadas as comemorações cuide dele. Se de alguma maneira, alegoricamente, lembrou a vinda do Messias Consagrado, não o condene a morrer no calvário de um lixão qualquer. Estimule seu crescimento e permita que ressurja, no próximo Natal, cheio de novos brotos verde-esperança, como em uma ressurreição.

E já que estou “pegando no pé”, aproveito para falar do Papai Noel. Perceberam que nestes dias fala-se mais dele que de Jesus Cristo? Sempre com suas roupas pesadas, botas de neve, gorro de lã e, ainda por cima tentando trafegar pelo nosso país, de ruas sempre congestionadas, dentro de um trenó para lá de antiquado. Que tal um velhinho mais maneiro? Alguém leve, vestido de algodão/cotton, branco, chinelo e chapéu de palha. Em lugar das renas, milhares de araras-azuis voariam num balão vermelho, com formato de coração, ajudando o bom velhinho a distribuir presentes para todos.

Ah, nada de "Jingle Bells". Prefiro Chico Buarque, na sua “Canção de Natal”, quando diz:

…Pra quem não tem seu tesouro
A vida é só uma esperança
E nada vale mais ouro que inda ser criança
Quem não vive de amor não vai viver sempre assim
Papai Noel planta flor onde não tem jardim…

Autor: Raul Cânovas

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