Adoro sapos

Ufa, até que enfim as chuvas começaram! Com elas, os finais de tarde ficam melodiosos, graças ao coaxar dos sapos no meu jardim.


 

Sei que muitos têm apreensão, nojo e até medo deles. Contudo, nem imaginam como os sapos são benéficos e úteis na preservação e no equilíbrio das comunidades biológicas. A maioria das espécies, como o sapo-boi e o sapo-cururu, vive perto de lagos e brejos, já que a fêmea, a rã, precisa de água para por seus milhares de ovos. Ela é maior que o macho e chega a pesar um quilo e meio, enquanto que ele não passa dos 400 g. Os filhotes, os girinos, só podem sobreviver em ambientes aquáticos.

Há quase 5 mil espécies que se alimentam de insetos, capturados com suas grandes línguas, entre esses:

– Moscas
– Baratas
– Pernilongos
– Lesmas
– Gafanhotos
– Formigas
– Pulgões
– Besouros
– Lagartas
– Vaga-lumes
– Camundongos
– Caracóis

Acha ainda repulsivo esse animal? Viu como é um aliado no controle das pragas mais comuns? Note que algumas pererecas se abrigam nas bromélias e, desse modo, conseguem manter o corpo hidratado. A pele, muito permeável, serve para respirar e para absorver a água que elas necessitam. Lamentavelmente essa mesma água está, muitas vezes, contaminada por substâncias tóxicas, poluição atmosférica e chuva ácida, condenando os sapos a um lento desaparecimento. O lixo que polui rios e represas é mortal para esses delicados anfíbios e, com seu desaparecimento, as moscas se reproduzem, contaminando alimentos e propagando doenças.

 

Fala-se muito do veneno do sapo, porém, só aqueles cujo colorido é mais intenso merecem cuidado. Essa cor forte e brilhante é um aviso para que os predadores — como garças, socós, morcegos e martins–pescadores — nem cheguem perto. A rela-rela-de-tingir, por exemplo, segrega um veneno tão poderoso que um quarto de miligrama é suficiente para matar uma pessoa.

Mas, por favor, não se assuste, eles só fazem isto se ameaçados e você não vai atrapalhar a boa vida deles. Vai?

Eu sou um apaixonado pelo sapo-martelo. Ele coaxa para atrair a fêmea ou para afugentar algum “concorrente”. Esse apelido lhe foi dado porque o seu rouquejar se parece com o de um martelo batendo em uma bigorna. Há muitos anos, Roberto Burle Marx, em seu sítio, me apresentou os sapos-martelo em um final de tarde inesquecível. Devagarzinho, para não assustá-los, me levou até a beira de lago onde coaxavam alegremente. Lembro da trepadeira flor-de-jade, carregada de flores pendentes com uma tonalidade azul esverdeada sem igual. Não me esqueci da fragrância dessa floresta tropical naquele entardecer que misturou whisky, poesia e intenso aprendizado, junto a meu mestre e ao crítico e pesquisador Clarival do Prado Valadares, grande amigo do paisagista.

Preste atenção feche os olhos e relaxe. Só assim irá descobrir a coaxante e misteriosa harmonia dos sapos.

Autor: Raul Cânovas

 

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