Tristeza

 Senti-la é algo frequente nas pessoas, mas será que consigo expressar como ela pode corroer-nos?

Aparece do nada, de repente, nos avisando, ao levantar da cama, que o dia será triste, opaco e que nada terá a capacidade de nos fazer sorrir. É inútil encontrar os motivos reais. As causas sim, geralmente lá, na nossa epiderme, sentimos o gosto amargo que nos atormenta e nos empurra em direção do desespero. Mas, o que nos motiva a ficar nesse sombrio letargo quase taciturno é inexplicável? Por que não conseguimos reagir? Por que nos aconchegamos no calado silêncio da amargura, quando no fundo sabemos que há algo que poderia melhorar esse estado depressivo e insuportável? 

Há algo de masoquismo, talvez, que nos leva à humilhação de considerar a dor como algo prazerosamente mórbido e aceitável, apesar da escura aflição que nos machuca por dentro. Agarramo-nos a ela como se não tivéssemos outra escolha, como se a melancolia fosse, nesse momento, a única alternativa que aponta um dia medonho e sem perspectivas que de forma alguma poderíamos mudar.

Hotonias

Poxa, mas onde ficaram nossas reservas de energias, de vigor, para salvar-nos dessa comoção emocional? Neste instante, imagino um jardim invernal, despido de qualquer folha para acalentá-lo e imerso numa névoa densa, pesada, que, lugubremente, pinta uma paisagem tormentosa, difícil de aguentar. Sei que a ocasião pede para que me feche dentro de mim mesmo, resguardando-me de mais mágoas. Mas intuo que, assim como esse jardim se vestirá de novas folhas, eu também irei me livrar do gélido sentimento que me aflige e atravessarei a obscuridade ou, seguramente, essa escuridão em algum momento se dispersará e poderei ver a luz novamente.

Mimulus

Creio que há uma caixinha que guarda um remédio onde está escrita a palavra “esperança”. Ele cura as circunstâncias fortuitas e promete recuperar as virtudes perdidas. Curiosamente, está composto por flores simples, flores que surgem do nada nos jardins onde bate o sol: impatiens de todas as cores, mimulus e gencianas de pétalas amarelas e de hotonias imaculadamente brancas que emergem de um charco qualquer.

A natureza deixa um recado: podemos ser espontâneos e simples, sem ser simplórios. Belos em consequência da nossa calma e, assim, desfrutar da ingenuidade dessas flores felizes com a carinhosa ternura de uma brisa na alvorada.

Autor: Raul Cânovas

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