Sentimentos

 O que é exatamente sentir? Podemos resumir isto a apenas perceber com os nossos cinco sentidos?

Se assim fosse, bastaria que nos escondêssemos de tudo e de todos para nos prevenir de qualquer mágoa. Refugiados em uma redoma impenetrável, estaríamos a salvo de comoções psíquicas e livres dos sofrimentos impostos pela vida, poderíamos dormir tranquilos, sem sobressaltos e sem os medos que os eternos estados de alerta se multiplicam dentro de nós, acelerando nosso coração ao ponto de gerar pavores súbitos, originados em uma permanente ansiedade.

Mas não, há algo além da visão, da audição, do paladar, do tato e do olfato. Algo que, paradoxalmente, chamamos de sensibilidade e pouco tem a ver com esses sentidos que são estudados e tratados por oftalmologistas, otorrinolaringólogos e dermatologistas. Algo parecido com um sopro não expelido por nenhuma boca, mas proveniente da voz secreta da alma, uma consciência plena de susceptibilidade que, afortunadamente, nos encoraja por vezes e nos lastima em outras, fazendo com que nos sintamos vivos. Já imaginou o que seria de você se suas emoções nunca se envolvessem com as circunstâncias, alegando que tudo não passa de uma manifestação física? Lágrimas seriam o resultado fisiológico, apenas, das glândulas da órbita ocular. Você não levaria em conta as emoções, nem o arrepio gostoso quando acaricia o corpo de quem ama.

Jardim dos Cinco Sentidos

Em Yvoire, uma aldeia cheia de flores nos Alpes Franceses, há um castelo com um jardim. Não é um jardim comum, tampouco representa qualquer estilo renascentista ou barroco. É, na realidade, uma horta medieval com árvores frutíferas, fontes, plantas medicinais, roseiras e temperos. Tudo muito perfumado e pleno de poesia, transformado em um “Labirinto dos Cinco Sentidos” com 2.500 m² de puro charme. Lá, aguçamos o olhar, acarinhamos musgos, cheiramos flores e podemos dar umas mordidas nas doces ameixas de cor esverdeada, enquanto ouvimos as águas borbulhando nos chafarizes. A ideia é exatamente dar lugar aos sentimentos espirituais, tão esquecidos pelos habitantes das grandes cidades.

Prestando um pouco de atenção e deixando as câmeras fotográficas de lado, vamos descobrir que essas plantas possuem alguma coisa além do cerne e da seiva tangível. Arrisco dizer, a despeito dos biólogos que, também como você e eu, elas padecem sofrimentos e se regozijam com o que é bom.

Autor: Raul Cânovas

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