Paixão

Será que é um sentimento bacana?

Sinceramente penso que não. Apaixonados perdem, em beneficio do outro, qualquer atitude racional que lhes preserve o amor próprio e adquirem uma doença sofrida, idealizando o objeto da afeiçccedil;ão arrebatada de forma superlativa, quando não equivocada. Esta patologia nunca é crônica, vai esmorecendo com o tempo, mostrando ao apaixonado realidades antes não percebidas. O desejo e o sentimento de posse obsessivo vai se debilitando, como se fosse algo conseguido sob efeito de uma droga passageira qualquer. Uma “ressaca” emocional toma seu lugar e nos mostra um vazio que pensamos que nunca mais será preenchido.

Ai meu Deus! Será que não estou sendo impiedoso com os apaixonados, com os amantes entusiasmados que se entregam felizes, sempre à procura da melhor das sensações? Bem, quando esse sentimento é alimentado pelo amor verdadeiro, umas pitadas de êxtase podem ser o tempero perfeito para acender um amor que dure para sempre.

Cupido encordoando seu arco. Museus Capitolinos, Roma.

Por isso sou a favor do amor, desconfiando sempre da paixão. Gosto do Cupido que dispara setas doces, querendo que os mortais sintam o mesmo que ele sentia por Psiquê, a deusa da alma e sua companheira imortal, que lhe deu uma filha, batizada de Prazer. As feridas provocadas pelas flechas que ele atira, podem tanto causar um amor alegre como uma paixão desenfreada, mas isto não depende do Cupido e sim do atingido, que reage conforme suas próprias emoções. Por isso não devemos culpar os outros pelo nosso destino amoroso, já que somos nós os artífices dele. Somos nós que nos magoamos com as pessoas e não elas as que motivam isto.

Eu continuo inspirando-me com as flores do meu jardim que, apesar dos vermelhos inebriantes, dos amarelos ofuscantes e dos azuis misteriosos, “pegam leve” inspiradas por Psiquê, a deusa que simboliza a alma vaporosa, como a de uma borboleta que, depois de uma vida rasteira como lagarta, flutua gozando alegre de um amor eterno… mesmo que dure algumas horas.

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