Ninhos de pássaros nas velhas árvores

Que seria da avifauna se não encontrasse refúgios para fazer seus abrigos?

 

Mais de mil espécies de aves e mamíferos usam os ocos dos troncos das árvores anciãs para criar seus filhotes, para a postura dos ovos, enfim, para fazê-los de moradia. Araras, papagaios, tucanos, corujas, pica-paus e preás, entre outros, vivem suas vidas nestas árvores que, com o passar do tempo, envelhecem e formam esses buracos.


Papagaio-de-peito-roxo

A doutora Kristina Cockle, coordenadora do Projeto Selva De Pino Paraná, da Fundação Azara-Universidad Maimónides, na Argentina, a doutora Kathy Martin na Universidade de British Columbia, Canadá, e o doutor Tomasz Wesolowski, na Universidade de Wroclaw, Polônia, organizaram grupos de trabalho integrados por pesquisadores, estagiários e voluntários para descobrir, com bastante paciência, durante um período que durou quase 25 anos, um total de 2805 cavidades em árvores de bosques e matas tropicais nos três países. Por outra parte revisaram os resultados de pesquisas similares em 17 locais de 10 países de Europa, Oceania, Ásia e América.


A pesquisadora Kristina Cockle

Esses estudos revelaram dados interessantes: 75% dos ocos usados pelos pássaros são os resultados da degradação dos troncos, produzida por fungos, insetos e ventos, nos últimos 100 ou 200 anos, enquanto que a grande família de pica-paus, e outros escavadores, como surucuás, chapins-sibilinos e pintassilgos-pinheirinho, são os grandes responsáveis pela maioria das cavidades (77%) apenas na América do Norte, onde ficam até quase uma década. Em contra partida na América do Sul e nos outros três continentes esses buracos resultantes da degradação são até 12 vezes mais duradouros.

Segundo resultados publicados no Frontiers and the Environment e comentados na revista Science, algumas dessa aberturas, nos troncos, encontradas na região de Misiones, na Argentina, servem de refúgio para quatro espécies de aves, por até sete vezes no período de cinco anos.


Surucuá

A pesquisa singular demonstra a importância que o cuidado das velhas árvores tem para a preservação da avifauna nativa. “Se pretendemos que nossos filhos contemplem aves, como tucanos e periquitos nas matas, precisamos manter essas árvores anciãs grandes e vivas, onde são formados os ocos mais duradouros” afirmou Kristina Cockle. Sem esses refúgios, esses pássaros não conseguem reproduzir; na América do Sul há muitas espécies de aves que precisam deles para aninhar e estão em perigo de extinção, como é o caso do papagaio-do-peito-roxo e o araçari-banana. Para reverter a diminuição dessas árvores, a doutora Cockle recomendou proteger as reservas e conservar as matas.

Autor: Raul Cânovas

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