Dia da Árvore

Árvores, símbolos e curiosidades

Eu, pessoalmente, acredito que todo este imenso cenário que chamamos de planeta Terra foi sendo moldado com muito cuidado, lentamente, e até com certa parcimônia. Vejam se não: segundo os cientistas a Terra tem 4,6 bilhões de anos. As primeiras rochas apareceram há quase 4 bilhões de anos. Depois surgiram bactérias, algas, musgos e cogumelos. Mas as primeiras árvores fincaram suas raízes muito tempo depois, mais ou menos há 150 milhões de anos.



Foi quando apareceu o Gingko, que embora não se pareça em nada com as coníferas (cuja família agrupa os pinheiros, as thujas, as araucárias, os cedros e tantas outras) é quase uma prima delas. Este Gingko, ao meu modo de ver, foi uma espécie de herói vegetal, porque se incumbiu de uma tarefa. Na época poderíamos dizer de ciclópea, emergindo no meio das samambaias com a robustez de um tronco lenhoso. Parece que esta proeza, esta façanha, aconteceu na China. O Ocidente só conheceu esta árvore por volta de, mais ou menos, 1750, quando foi introduzida na França.


Eu acredito que as árvores que serviram para dar um acabamento à paisagem, depois da aventura bem sucedida do Gingko, despontaram aumentando a biodiversidade e acrescentando formas a essa paisagem definitiva.


Tudo isto, como vocês podem ver, demorou muito e até faz sentido, porque só por intermédio de processos lentos é que chegamos à perfeição. Não há dúvida que a intenção do planeta era a de proporcionar um habitat imenso, bem acabado e primoroso para que nós, mulheres e homens, tivessem um campo ideal para aperfeiçoarmos.

RELIGIÃO

Em um texto tomado de um velho livro judaico, a respeito do Gênesis — que é o primeiro livro da Bíblia e que trata especificamente da origem do mundo e do gênero humano —, Deus afirma que plantou uma árvore para que, mais tarde, o mundo inteiro pudesse nela deliciar-se. Essa árvore abrange um todo e esse todo é abarcado por ela. E todas as coisas do mundo necessitam dela, porque dela emanam as energias da vida.

Segundo alguns talmúdicos, que são aqueles que interpretam os antigos textos hebraicos, Deus teria experimentado um imenso prazer depois de sentir os resultados desta experiência divina. Eles mesmos fazem uma analogia entre os poderes de Deus e a copa da árvore da vida. As forças celestiais estão dispostas em camadas e são como uma árvore que dá seus frutos, na medida em que o Criador aumenta sua vitalidade por intermédio da água da vida e da sabedoria. E estes frutos seriam as almas dos próprios homens e mulheres que voam em direção ao divino.

A imagem, segundo estes rabinos, estes doutores, é muito bonita porque se vê completada por anjos que surgem mais tarde, alegoricamente adotando a forma de árvores no Paraíso.

MITOLOGIA

Gostaria de esclarecer que quando falo da ligação atávica, ou seja, dessa herança psíquica e remota que nos une às florestas, não o faço como paisagista apenas. É fácil perceber que o ser humano, desde épocas distantes, buscou na mitologia as explicações para sua própria existência. Nestas passagens dos tempos fabulosos podem ser encontrados uma porção de deuses que representam as forças da natureza e que se encontram no mudo vegetal.
 


"Vertumno e Pomona", reprodução de tela do artista Dosso Dossi

Alguns destes deuses são bastante conhecidos e até citados pelos poetas e pelos professores de história, mas existem outros dos quais raramente ouvimos falar. É o caso de Vertumnio, que foi coroado no Monte Olimpo com ervas e lhe foi dado uma cornucópia, uma espécie de vasoem forma de corno, cheio de flores e de frutos. Vertumnio casou com Pomona, uma divindade etrusca que simbolizava estas flores, as plantas e também os frutos, mas era ele o deus que protegia os jardins e as hortas.

Nesse mundo divino e fantástico descobrimos Silvano, deus das árvores e dos bosques e Ceres que era a deidade da vegetação.

A relação é enorme, mas o importante é saber que os gregos e os romanos tentaram entender e representar a beleza por intermédio do celestial e da pureza.

Os deuses representavam esta beleza e, no mundo antigo, se acreditava que as coisas bonitas e perfeitas estavam intimamente associadas à natureza. Dessa maneira, as pessoas estariam criando ícones e ao mesmo tempo metas a serem atingidas através da perfeição.

Os Caldeus e os Assírios foram os primeiros a dar um significado simbólico. A árvore da vida era representada nos relevos escultóricos, acompanhada de seres alados em atitude de adoração.

Depois, já na Idade Média, era comum ver a árvore genealógica de Jesus: da boca e do peito de José, quase sempre deitado, surgia uma árvore, com os galhos sempre carregados de folhas e de frutas. Aparecem também os reis de Judá, ascendentes de Cristo, e, no último galho, rodeado de uma áurea de luz, está a Virgem Maria, vestida de rainha, com o menino nos braços e com frequência sentada sobre uma flor que lhe serve de trono. Nesta árvore aparecem às vezes os profetas e até os sábios da antiga Grécia.

AS FANTÁSTICAS ÁRVORES

Por falar em símbolo, muitas são as árvores que representam a imagem do estoicismo, da robustez e da energia. As sequóias californianas, com mais de cem metros de altura, alguns carvalhos europeus e um raro cipreste que vive em um cemitério no México têm idades em torno de quatro mil anos. Um pinheiro vegetando a uma altura de 3.200 metros, nas montanhas Rochosas, na América do Norte, tem 4.900 anos e apenas doze metros de altura.

Também no México outra testemunha da história é “El arbol de la noche triste”. Essa Ceiba deu abrigo ao conquistador Hernán Cortés após ter sido vencido pelos indígenas. Segundo a lenda, o navegante espanhol chorou a derrota protegido pela copa da árvore em 1º de julho de 1520. Sua idade foi calculada em 6000 anos e uma comissão internacional de botânicos está trabalhando para sua preservação.

Ciprestes plantados pelos Etruscos na península itálica, Baobás na Índia e até oliveiras no Gethsemani, onde Jesus orou, ainda vivem no meio a uma calma secular. Aqui no Brasil, mais precisamente em Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo, um Jequitibá de 45 séculos de vida precisa de mais de dez pessoas para ser abraçado.

Autor: Raul Cânovas

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