Cactos

Hoje estou trazendo um pouco da vida dos cactos e das plantas crassas. Muitas das plantas que crescem aqui, no nosso país, especialmente na região Amazônica ou até em centros urbanos como Salvador, Cuiabá ou Florianópolis, se fossem levadas para o deserto não conseguiriam agüentar muito tempo. O clima extremamente seco, assim como também as temperaturas sempre muito altas durante o dia e baixas durante a noite, não seria propício para as mudas que habitualmente cultivamos no jardim.
Apesar disso, muitos desertos não correspondem com a idéia que geralmente a gente faz deles, os que estão formados por grandes extensões de areia e pedra como Gobi, Saara ou Negev são exceções, e mais raros ainda são aqueles que não têm nenhum tipo de vegetação. Há uma série de plantas que estão preparadas para viver nesses lugares extremamente secos, muitas delas reduzem seu período de vegetação ativa a ponto de germinar, florir e chegar à maturidade das sementes em algumas semanas. Isso é feito só para aproveitar o curto período das chuvas, depois as sementes ficam muito tempo numa secura total, esperando condições para germinar.
Têm também cactos com raízes compridas, às vezes com 10 ou 12 metros, que se aprofundam até atingir camadas subterrâneas úmidas. Todos esses cactos têm os troncos, caules e folhas bem suculentos, convertidos em depósito de água que permitem que essas plantas sobrevivam até a chegada da próxima chuva.

Às vezes penso que os cactos são criaturas um tanto esquisitas, tento imaginar como deve ter sido aquele momento meio mágico, meio apoteótico, onde as plantas depois de ter suportado as variadas situações, em forma de terremotos, dilúvios e erupções, iniciaram silenciosamente a procura do espaço ideal. Cada liquen, cada árvore, cada samambaia buscavam uma forma de subsistência. Umas se agarraram às pedras, outras corriam para o alto das montanhas, as mais tímidas ficaram escondidas embaixo das árvores, havia também as friorentas que se amontoavam junto ao Equador, e umas poucas calorentas que corriam sem pés, buscando frio.

E foi assim que sequóias e jequitibás ficaram altos e orgulhosos. Orquídeas exibidas escalavam o alto das árvores para serem admiradas, doces caquis pulavam vestidos de laranja em cima da relva molhada. Enquanto isso os cactos, sem a mínima aptidão para fazer amigos, foram em direção ao deserto, onde se tornaram rígidos e solitários, e ainda por cima, apavorados frente a possibilidade de alguém chegar muito próximo, vestiram-se com uma espécie de armadura crivada de espinhos.
No entanto, uma delas cansada e angustiada com tanta solidão, decidiu um dia voltar, na tentativa de reencontrar os velhos amigos. Deixou para trás a roupa cheia de espinhos e abraçou apaixonadamente um Ipê-amarelo.

Esta é a história da flor-de-maio, aquela mesma que os botânicos chamam de Zygocactus. Talvez uma história muito parecida com aquelas que nos falam de pessoas que conseguem emergir da solidão, ou do desespero, voltando para o aconchego da família, ou dos amigos.
Quem sabe você possa colaborar, através de cuidados e de carinho, para fazer com que os cactos sejam menos desconfiados, aceitando viver em colônias de forma comunitária, sem temores, nem receios e sem aquela sede cruel que sentem no deserto. Cultivá-los é muito fácil, eles só precisam de sol, umas gotinhas de água de vez em quando e até uma vez por ano, um adubo que pode ser feito com algas de praia bem lavadas e secas, e depois moídas. Esta comidinha vai trazer como resultado uma florada fantástica, que pode ser branca, amarela, vermelha ou até quem sabe lilás. Essas pétalas coloridas aparecem às vezes de maneira fugaz, no meio da noite, talvez por pura timidez.

Autor: Raul Cânovas

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